A denúncia de um trabalhador rural que sobreviveu a um tiro na nuca de seu empregador levou a Polícia Federal a resgatar três pessoas submetidas a condições análogas escravidão na fazenda São Sebastião e outra propriedade próxima, da mesma família, no Maranhão.
A tentativa de homicídio ocorreu em novembro de 2021 e o resgate dos trabalhadores em fevereiro passado, mas por conta do segredo de Justiça apenas agora o caso foi divulgado em reportagem feita pelo Repórter Brasil.
De acordo com o depoimento do trabalhador rural, ele foi alvejado por trás pelo caseiro da fazenda onde trabalhava por estar cobrando uma dívida trabalhista do patrão. Após o tiro à queima roupa, ele escutou o caseiro dizer: “Tá morto o peão.”
Ele esperou o caseiro se afastar para fugir e procurar ajuda. O tiro pegou de raspão e ele procurou as autoridades, relatando o caso, que levou a Polícia Federal a libertarem os trabalhadores rurais.
Os agentes constataram que eles não tinham contrato de trabalho, folgas e viviam em acomodações insalubres. Um deles sequer tinha pagamento, trabalhava em troca de casa e comida. Esse homem, um senhor de 62 anos, precisou ser resgatado de ambulância, pois tinha um quadro grave de covid-19 e não comia nada há seis dias.
“Esse senhor tinha uma condição muito vulnerável, trabalhava em troca de casa e comida havia um ano e quatro meses. Quando adoeceu, não recebeu atendimento médico e o empregador ainda deu a ele um medicamento vencido”, relata Ivano Rodrigues Sampaio, auditor fiscal do trabalho que participou da ação.
O administrador das fazendas, Samy Wilker Novaes Aguiar, sua irmã, Saskia Aguiar Evangelista, e o pai, Sebastião Costa Aguiar estão respondendo na Justiça do Trabalho pela manutenção de trabalhadores em condições de escravidão e deverão responder também pelo tiro desferido contra o funcionário, cujo inquérito ainda está em andamento.