Em seu artigo “Gonçalves Dias e o provincianismo maranhense”, divulgado nesta quarta-feira, 26, em seu canal do Telegram, o jornalista Roberto Kenard traz à tona uma importante reflexão acerca da forma como a figura do grande poeta Gonçalves Dias está sendo homenageada no bicentenário de seu nascimento.
No artigo, o jornalista ressalta que considera insuficiente um simples passeio turístico e defende uma discussão mais ampla sobre a obra de Gonçalves Dias. Kenard rejeita a visão provinciana que limita o poeta à etiqueta “maranhense” e destaca a importância de colocá-lo no contexto da melhor poesia brasileira e da tradição internacional.
Leia abaixo íntegra do texto:
Gonçalves Dias e o provincianismo maranhense
Tomo conhecimento de que decidiram homenagear o bicentenário de Gonçalves Dias com um passeio. Não é assim que se honra um grande poeta. Com um passeio típico de turistas estúpidos. Trata-se de mais uma, entre infinitas, atitude inane.
Um grande poeta exige uma ampla e fecunda discussão a respeito de sua obra. Por exemplo: um seminário de amplitude nacional (quem dera internacional). Colocá-lo num cofo, como se fosse coco babaçu, com a etiqueta “maranhense”, é adequá-lo ao provincianismo maranhense.
Quem assim age tem da tradição uma visão equivocada, muito ao gosto de uma classe média inculta e farisaica. Tradição não é um pântano de águas estagnadas. Há de ser viva, na corrente do rio do presente. Ou não é nada. Ou menos que nada: bolor provinciano.
Gonçalves Dias precisaria, no bicentenário de seu nascimento, de uma discussão que o colacasse na linha da melhor poesia brasileira, e no campo de uma tradição internacional viva. De imediato, isso põe na mesa de discussão o que, na produção do poeta, resistiu ao tempo. Glorificá-lo de forma tosca e acrítica é desrespeitá-lo. E ter da poesia uma visão tacanha.
Roberto Kenard- jornalista
